terça-feira, 13 de abril de 2010

A maior parte de mim


Os anos passaram pela minha janela.


Essa seria uma boa frase pra começar um texto saudosista, de um dia de aniversário onde as coisas todas magicamente mudam de lugar, onde os problemas se resolvem e as dúvidas não existem mais.
Infelizmente, não é assim.

As coisas não passam pela nossa frente, pela nossa vida, macias e imperceptíveis. Muitas vezes, e normalmente, ir além delas machuca e, na hora, a gente não entende exatamente o porquê.
Hoje eu faço vinte e uns anos. Quanta coisa aconteceu, quantas vezes eu gritei de tristeza, sorri de alegria, me confundi no gozo e no pranto e virei essa mulher inteira dos meus pedaços, cheia dos meus vazios. Virei essa mulher que ri e chora muito de tudo, porque vive até a última pulsação das coisas, porque sempre bebe até o último gole.

Tantas foram as vezes que eu superestimei tanto tudo, que eu achei que não dava mais, que já tinha vivido tudo o que era pra mim. Quanta bobagem.

Bobagem porque de todas as minhas tragédias de um dia, o máximo que me ficou foi a lição de que ser hiperbólica como só eu sei, pode, no máximo, me render um estilo, jamais um final. Nada acaba só porque pra mim sempre é um caso de vida ou morte.

Mas os meus exageros me fazem bem, me fazem escrever, me dividem com as pessoas que, por um motivo ou outro, lêem as babaquices que eu prolifero mundo a fora. Ter coragem de falar o que muitos pensam no quartinho escuro seguro da consciência me rendeu grandes amigos, me fez conhecer pessoas incríveis. É inexplicável.
Os vinte, esses sim, passaram voando por mim. Sabe aquelas brisinhas boas que despenteiam, mas não a ponto de descabelar? Passaram gostosos, cheios de informação pra eu absorver de um só vez. E acabaram rapidinho porque tudo o que é bom dura pouco pra caralho. Os vinte passaram inteiros e a minha mania de boca suja não foi embora junto com eles.

Tanta coisa, tanta gente, tanto medo acumulado esperando a maturidade finalmente chegar e, quando ela finalmente chega, eu ainda me sinto imatura e quero o colo da minha mãe, o abraço da minha amiga, o beijo na testa do meu primo, o amor do cara que foi embora há três anos e nunca mais voltou.
E enquanto eu espero por tudo isso, por um mundo cheio de certezas onde acordar vai render uma gargalhada e nada mais vai valer uma tristeza, a vida vai passando. Sem perceber, eu vou passando junto com ela porque, felizmente, apesar de eu esperar a felicidade, eu nunca deixo de ser feliz. E nem vou.
Eu continuo sendo essa menina boba, que descobre todo dia que não sabe da missa a metade, mas que se joga, e se fode, e, no final, se diverte. O meu inferno astral acaba hoje, porque hoje começa a minha nova primavera. E eu olho pros lados procurando motivos pra uma felicidade de festa, de hoje, momentânea, mas percebo que as minhas maiores razões de sorrisos estão bem aqui, comigo: do meu lado e dentro de mim.

[Rani Ghazzaoui]


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