quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

P/ refletir

Chovia muito no último dia em que vi meu pai. Eu estava com oito anos de idade e padecia na cama com 40ºC de febre. Amígdalas.

Meus pais tinham se desquitado havia já alguns meses. Eu, meus irmãos e minha mãe morávamos num apartamento de um quarto na Assis Brasil. Ele foi nos visitar e deparou comigo tiritando sob a coberta.

Lembro com nitidez daquela noite, dele parado à soleira da porta do quarto, de pé, olhando-me, e minha mãe ao lado, com o papel da receita do médico na mão. Ele tomou a receita e ofereceu-se para ir à farmácia. Deu as costas para o quarto, mergulhou na escuridão do corredor e foi embora. Nunca mais o vi.

Logo depois ele se mudou para outro Estado, no Centro-Oeste, e lá construiu o resto da sua vida. Um dia de 2001 alguém me disse:

- Teu pai morreu ontem.

E eu não sabia o que sentir.

Não conto essa história com ressentimento. Porque acho que entendo o que aconteceu com meu pai, naquela noite de chuva. Ao sair do apartamento, ele de fato tencionava comprar os remédios.

- Vou comprar dois de cada! - recordo que disse.

Mas meu pai era alcoolista. Na rua, deve ter cruzado pela porta de um bar, ou com um amigo, e parou para beber. Quando deu por si, era tarde para ir à farmácia e tarde para desculpar-se. Continuou bebendo, gastou todo o dinheiro e, no dia seguinte, envergonhado, preferiu não dar notícias. Assim passou-se um dia, e outro, e mais outro. De repente, havia transcorrido tempo demais para voltar atrás ou para dar explicação. Meu pai não enfrentou a própria vergonha, isso não é incomum. Acontece. É compreensível.

O que sempre me enfeitiçou nessa história, que, afinal, é parte da minha própria história, não foi o detalhe da desistência do meu pai. Não foi o abandono. Foi o momento em que meu pai decidiu entrar no bar. Uma decisão tão aparentemente irrelevante, tão fácil de ser tomada, dar dois passos da calçada em direção a uma porta aberta, e, ao mesmo tempo, uma decisão tão crucial. Fico pensando em como a vida é repleta dessas pequenas deliberações que podem alterar rumos e mover destinos. Fico pensando em todas as palavras espinhosas não ditas, nas vezes em que o sinal amarelo não foi cruzado, em que o gatilho não foi apertado, em que não liguei para ela, nas chances que deixei passar, e nas vezes em que fiz tudo isso, por bem ou por mal. Um passo, uma palavra, um gole, um pedido de perdão que não foi feito, e tudo muda. Mudou para meu pai. Mudou para mim. Neste fim de ano, o que desejo a todos é isso, que o passo seja certo, que a palavra seja macia, que o gole valha a pena, que o perdão seja pedido. E concedido.

(David Coimbra)


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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Feliz Ano Novo!!



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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Faz de Conta


"Faz de conta que o céu tá bonito, que a saudade é pequena e que a fé é muita. Faz de conta que a dor foi-se embora. Faz de conta que ama e que é amada. Faz de conta que nada mais sangra, que o sonho não acabou e que o riso é constante. Faz de conta que num piscar de olho a gente constrói o que a gente quiser. Faz de conta que o amor é tanto que corre das veias e chega a sobrar. Faz de conta que a inocência ainda existe e tá pertinho da gente. Faz de conta que as pessoas que a gente gosta apareçam em sonho. Faz de conta que o fio da vida é longo e que nele cabe a eternidade. Faz de conta que as cantigas ocupam o lugar do choro. Faz de conta que a gente consegue desatar os nós de marinheiro que a vida dá. Faz de conta que não é preciso inventar."


(Cris)


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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Passo a passo...•...•...•...•...


A rotina pode acabar com uma pessoa. E mudá-la também pode ser muito difícil. Não há como saber o que pode ser pior.
Acordar todo dia no mesmo horário, sabendo tão bem tudo que se deve fazer, que se a ordem de algo muda, sempre acontece alguma coisa. Se esquece o livro que prometeu levar, se esquece de levar o dinheiro para colocar combustível no carro.
E depois o dia se arrasta se não há muito que fazer, ou passa rápido se tiver muito trabalho. Em casa as mesmas coisas para fazer que são tão boas, que fazem a noite acabar rápido demais.
E os fins de semana escapam por entre os dedos, e quando se percebe já começa de novo a semana.
E se passa o mês. E o ano acaba. E parece que nada muda.
As pequenas infelicidades são compensadas pelas pequenas felicidades causadas por ataques de consumismo. Consumismos desnecessários, totalmente dispensáveis, mas incontroláveis.
Um sorriso, uma piada no fim do dia, uma mensagem enviada sem se esperar.
Uma fechada no trânsito, uma resposta ríspida, uma mordida do cachorro.
Pequenas coisas que vão tecendo a grande teia da vida.
E assim se vai seguindo. Sem olhar para trás.
(Amanda Bia)

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domingo, 27 de dezembro de 2009

'Sou'


E se fica quieta, é porque ta triste. Chora mas ninguém vê. Tem medo da morte e fala das gentes que conheceu pelo caminho enquanto morava em outro país. Não nesse. Nem de perto ela cheira a mesmice. Suas histórias são curtas, mas se explicadas, gigantes. Não peça explicação, nunca. Ela fará um livro de uma frase. Se quiser, porque se não, vira as costas e sai dançando, gingando como quem não quer nada. E ela nunca quer. Na verdade, quer viver, quer colorir e ser colorida, quer amor pra dar e vender. Quer viver balançando no quintal da sua imaginação. Lá onde ela se encontra com anjos e fala com Deus a cada subida que o balanço faz. E volta rindo de tudo o que ouviu. Sem ninguém entendê-la. Continua porque, o que mais sabe fazer na vida, é continuar, sorrindo...
(Vanessa)

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sábado, 26 de dezembro de 2009

Ela


"Sonha acordada e faz planos mirabolantes.
Inventa novas cores pra enfeitar o desenho,
que é sempre dos mais bonitos.
Espalha palavras doces pelo caminho e
espera que as letras sejam devoradas.
E são. Sempre são.
Os corações têm fome de afeto."
(Briza Mulatinho)

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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Te desejo... Me deseja!

"Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa,

não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia,

me deseja também uma coisa bem bonita,

uma coisa qualquer maravilhosa,

que me faça acreditar em tudo de novo,

que nos faça acreditar em tudo outra vez." (Caio F.)


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