quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Uma poesia p/ 'O' signo...


Ah! Quem conhece um ariano
Jamais o esquece...
Sorri com a mesma facilidade
Com que grita
É de uma inocência
Sem igual
Vive de alto astral
Sua ingenuidade encanta
E sua energia contagia
Adora fazer birra
Porque quando quer,
quer porque quer...
E às vezes quando conquista
Nem queria tanto assim...
Esses arianos adoram riscos
Lutam pelo que desejam
Mas não esperam ganhar um beijo
Rouba-os.
Saiba que ter um amigo ariano
É ter a certeza que se fores ao fim do mundo
Ele estará sempre com você.

(Sirlei L. Passolongo)

=*

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Verbo


Desde que o amor se fez verbo em mim
Só sei conjugar a saudade...
Enquanto ele era substantivo abstrato
Não doía assim. (Sirlei L. Passolongo)


=*

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Qualificação


Não venham com razões e palavras estreitas.

O que sou sustenta o que não sou.

Por mais grave a doença, a dor já me curou.

E levo no bordão,
o campo, a cerca,
as passadas que vão,
o rosto que se acerca
na rudeza do chão.

O que sou
é dar socos
contra facas quotidianas.
E é pouco.

(Carlos Nejar)


=*

domingo, 27 de setembro de 2009

O Sorriso Perdido de Carolina

Carolina coleciona sorrisos. É uma coleção antiqüíssima, herdada do pai, conta com sorrisos amarelos que de tão raros ela esconde entre os dentes, costurados pela linha dos lábios. Nunca os exibe para ninguém, nem para o espelho. Não os troca por nada, nem por outros sorrisos. Preserva-os por medo de que alguém algum dia venha a roubá-los. Acorda com fortes dores abdominais, porque alguns, como borboletas no estômago, começam a lhe fazer cócegas. Não boceja por receio de que eles escapem. Não come por receio de regurgitá-los. Quando muitos lhe saem pelo umbigo, a vagar por aí divertindo as pessoas, segue-os à procura de novas variedades.

Sua coleção, que já era vasta, aumentou ao passo que colheu estes exemplares pelas ruas. Já possui os de toda a vizinhança, que deixou de sorrir faz muito tempo. Não se ouve mais o risi-nho entre dentes do dono do mercantil, as gargalhadas extravagantes dos bêbados na esquina. Carolina já os copiou e se antecipa a todos eles. Tudo perdeu um pouco a graça por ali. Passou então a andar de ônibus com o seu caderninho, tomando nota de cada sorriso de calçada que lhe aparecia no trânsito, e que ela tentava imitar muito à sua maneira, rápida e silenciosa, que era para ninguém ver porque tinha muita vergonha de que alguém no ônibus reivindicasse um sorriso alheio.

Eu já tentei guardar um sorriso para lhe dar de presente, mas não soube ao certo como fazê-lo. Sorrisos são difíceis de guardar. É quase como uma arte. Mas se guardasse os que já ouvi, tão autênticos, tão estranhos, tenho certeza de que me agradeceria com lágrimas nos olhos. Porque dos meus Carolina já têm em grande quantidade. Não valem mais nada para ela. Se cada ocasião exige um sorriso, em cada ocasião ela sabe exatamente que sorriso eu vou dar. Não consigo sorrir ao telefone com ela ao meu lado. Não consigo sorrir com ela me espreitando à mesa. Não consigo sorrir com ela prevendo cada milímetro de rosto que irei mobilizar, cada inflexão de voz que deliberadamente irei assumir enquanto estiver sorrindo.

Ouvi boatos de que, em sua coleção recente, um sorriso está lhe faltando: o seu. Carolina não sabe sorrir. Desaprendeu o seu próprio jeito de fazer. Perdido entre tantos sorrisos, num lugar que nem ela consegue achar, lá está ele, esquecido. Nada o faz surgir, nada o faz brotar. E quantas piadas já não o procuraram. Quantas alegrias já não perderam sua imagem entre as orelhas.

Carolina só sorrirá quando acabarem os sorrisos do mundo.

(Renivaldo Costa)


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sábado, 26 de setembro de 2009

A Verdadeira Amizade

5 Boca doce granjeia muitos amigos

e lábios afáveis atraem saudações.

6 Sejam muitos os teus amigos,

mas o teu confidente um só entre mil.

7 Queres ter um amigo? Adquire-o com a prova

e não te apresses em confiar nele;

8 porque há amigo que se vai com o tempo,

e no dia da tribulação não é constante.

9 Há amigo que se torna inimigo,

e descobrirá, para tua vergonha, querelas.

10 Há amigo que só o é para a mesa,

e que nos dias da desgraça desaparece;

11 na tua prosperidade é como se fosse outro tu,

na tua desventura afasta-se de ti;

12 se te colhe o infortúnio, volta-se contra ti,

e oculta-se da tua presença.

13 Permanece afastado de teus inimigos,

e com os teus amigos tem cuidado.

14 Um amigo fiel é um refúgio poderoso,

e quem o encontra, achou um tesouro.

15 Amigo leal não tem preço,

e nada se iguala ao seu valor.

16 Bálsamo vital é o amigo fiel;

os que temem a Deus o encontram.

17 O que teme a Deus é constante na sua amizade

porque qual é ele, tal é também o seu amigo.

(ECLESIÁSTICO, 6,5-17)

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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Oculto


Cai uma chuva gelada por trás da vidraça. Os dedos dos pés impacientes dentro da meia de lã, as mãos se aquecendo com a xícara de café, os lábios sendo mordiscados com os dentes, um pijama velho, um moletom jogado em cima, os cabelos bem amarrados, os olhos pequenos e perdidos acompanhando o desenho que água faz no vidro da janela.Não me importo em estar assim despojada, só quero me sentir o máximo bem que puder, embora seja improvável isso acontecer em uma noite de sexta, quando o fim de semana chega e você não tem ninguém. Ninguém que vá te abraçar enquanto a chuva cai lá fora. Ninguém que vá acalmar a tempestade que acontece dentro de você. Ninguém que vá te dar a mão quando você tem tanto receio de estar sozinha. Ninguém que ficaria ali, de graça, deitado ao teu lado escutando os trovões. Por um instante você pensa que isso é tão triste, que isso pode ser tão miserável e o amor parece ser uma esmola que você pede em troca de um sorriso, por mais falso que isso pareça. Frágil, o barulho da chuva viola o silêncio do pensamento, da lembrança, da doce ignorância em planejar o futuro. Você tem medo, porque você vê que tem tanta lágrima por dentro, escondida, calada, tímida e um dia chuvoso e frio é tão pouco comparado a tudo que você esconde atrás de um rosto discretamente limpo e doce.

(Cáh Morandi)

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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Distração



Se você não se distrai, o amor não chega
A sua música não toca
O acaso vira espera e sufoca
A alegria vira ansiedade
E quebra o encanto doce
De te surpreender de verdade

Se você não se distrai, a estrela não cai
O elevador não chega
E as horas não passam
O dia não nasce, a lua não cresce
A paixão vira peste
O abraço, armadilha

Hoje eu vou brincar de ser criança
E nessa dança, quero encontrar você
Distraído, querido
Perdido em muitos sorrisos
Sem nenhuma razão de ser

Se você não se distrai,
Não descobre uma nova trilha
Não dá um passeio
Não rí de você mesmo
A vida fica mais dura
O tempo passa doendo
E qualquer trovão mete medo
Se você está sempre temendo
A fúria da tempestade

Hoje eu vou brincar de ser criança
E nessa dança, quero encontrar você
Distraído, querido
Perdido em muitos sorrisos
Sem nenhuma razão de ser

Olhando o céu, chutando lata
E assoviando Beatles na praça
Olhando o céu, chutando lata
Hoje eu quero encontrar você

(Zélia Duncan)

=*