Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz intima pedindo perdão por tudo
-Perdoai-os! porque eles não tem culpa de ter nascido...
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
ela virá me entreabrir a porta como uma amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.
(Vinicius de Moraes)
=*
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