quarta-feira, 16 de junho de 2010

Conversa com Deus


E você Deus, não vai dizer nada? Como ele era transparente demorei a entender que ele vivia numa espécie de caixão sem portas, que alguns chamam de céu. Retiro-lhe o véu da consciência e o toco para ver se ele reage. Ao menos você, fale comigo Deus. Quero acreditar que em seu infinito silêncio haverá alguma resposta. Tenho engarrafado aviões com vôos metafóricos na tentativa de encontrar uma pista de pouso na vida real. Amanheci velha. Não caibo mais nas minhas roupas de Super-herói. Levante-me do chão. Está caindo a temperatura aqui na terra. As palavras se congelaram em meus lábios, antes que eu pudesse pedir para que você ficasse. Faz tanto frio aqui dentro que não sinto mais as extremidades do corpo. O que vai acontecer quando eu não me lembrar de mais nada? Sem perceber o que fazia, aproximei-me dele e estendi minhas mãos até estar perto o suficiente para poder tocá-lo. Não consegui. Estou petrificada. Olhe nos meus olhos, Pai. Passa um filme de nós aqui dentro. Por mais que eu me esforce só consigo lembrar de mim ainda criança. Eu não posso te ver, mas sinto a tua presença neste momento. Prometa Pai, que se eu não desistir de mim agora, o Senhor vai me aquecer. Vai derreter esta neve e transformá-la em um lago que nós dois nunca brincamos. Pode ser que o sol apareça amanhã de manhã e nos encontremos para aquele passeio de barco. Desta vez, ancoraremos num porto seguro. Minha canoa sempre esteve furada. Ainda assim eu seguro firme no leme. Porque no barco da esperança, o que vai contar é a força com que se puxa o remo da fé.

(Pipa. In.: A moça do lago.)


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